terça-feira, 14 de janeiro de 2014

As margem do Rib. Vermelho com J. M. Laitão nº 08

                            A ESPERTEZA DO CORONEL



É o velho coronel, chefe político em Ribeirão Vermelho, chamou seu menido de recados.
__Hermelino, Hermelino, venha cá seu moleque.
__Já tô ino, seu coroner.
__ Vá chamar o Indalécio, o João Domingues e o Chico Paranaguá, e ligeiro viu, moleque!
__É pra já, coroner, to ino.
Pouco depois chegavam os três empregados do coronel.
__”Viu rapaziada”, falou o coronel; “Eu quero saber como está a lavoura, se já está tudo carpido”.
__” Bem, acho que farta carpi ainda uns doze arqueres” respondeu o Indalécio, “ aquele que fica perto da água da divisa, o resto, tá tudo no limpo”
__” E tem gente pra fazer o serviço”? indagou o coronel.
“Lá  dificí de arruma camarada”, falou o João Domingues, “tão tudo ocupado na lavoura deles”.
__”Bem”, falou o coronel, “Vamos fazer igual fizemos no ano passado, você vão, cada um para um lado, visitem todos aqueles que tiverem filhos com idade entre dezoito e vinte e poucos anos, e fale para eles virem aqui no domingo cedo, certo”?
Quando chegou o domingo, bem cedinho, foram chegando os convidados pelos capangas do coronel, e foram se reunindo no pateo da fazenda.
Saindo no alpendre da casa grande, o coronel foi falando.
__Pois é pessoal, eu recebi uma carta de São Paulo, falando que o General do Exercíto vai convocar os filhos de vocês pra servir o governo, e como vocês sabem a vida lá é dura!
Vocês devem imaginar como eles vão sofrer...vão ficar um ano fora de casa...lá eles ficam até dois dias sem comer,... Se fizerem qualquer coisa errada, são presos e apanham todos os dias... e o pior é que às vezes viram mulher dos mais velhos... a vida deles varia um inferno!
Logo, os pais começaram a resmungar:
__”Credo im Cruiz”, “Deus zo livre i guarde”,”cuitado do meu fio” e outros lamentos até que um deles criou coragem e gaguejou!
__Mais coroner, nem tem jeito do sinhor livrar eles desse aperto?
__”Bem”, falou o coronel, “ se eu não precisasse limpar a minha lavoura, eu ia até a capital do estado, e ia falar com o general Ataliba Leonel, que também é deputado do P.R.P, e resolvia na hora esse licenciamento; mas até eu limpar minha lavoura, talvez seja tarde demais e não dê mais tempo de conseguir isto.
__Após um longe silencio, alguém resmungou .
__”Bão , si o coroner quise, nois vamo fazê um trato”.
__”Que trato e esse, que o compadre quer fazer? Perguntou o coronel.
__”Si o Sinhor ajeitá esse tar licenciamento pros nossos fios, nóis limpa a roça pro senhor” falou o Tônico Ramos.
__”Isso memo, nóis limpa a lavora do Senhor, nem que gaste a semana inteira”, responderam os outros pais ali presentes.
__”Bem, se for assim”, falou o coronel, “amanhã mesmo eu vou até Itararé, pego o trem pra São Paulo e vou resolver o problema dos moços, e eles vão ficar livres de servir o governo”.
E mais uma vez, o coronel limpou sua lavoura de graça. Enquanto os trouxas capinavam sua róça, o esperto coronel descansava na casa de uns parentes em Itararé.




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