segunda-feira, 10 de março de 2014

As margem do Ribeirão Vermelho com João Maria da Silva nº19

A VISITA DO PASTOR





                   Lá pelos anos mil novecentos e cinqüenta e dois, Ribeirão Vermelho preparava-se para receber a visita pastoral do senhor bispo Dom José Carlos Aguirre, que viria de Sorocaba, que era a sede de nossa diocese.
                   A Mercedes, a Lazarina e a Maria do Antonio Bento, que eram as catequistas, já haviam preparados as crianças para serem crismadas, e os crismandos já tinham escolhido os seus respectivos padrinhos e madrinhas.
                   Os congregados Marianos, foram à chácara da enfermeira, onde morava o João Lino, para cortar as taquaras de pesca, que por lá era abundante, para enfeitar a rua do comércio, hoje Justino Brizola , por onde o ilustre visitante iria passar.
                   As taquaras cortadas eram transportadas pelos caminhões do Fabrício do João Paulino e do Percival, e eram fincadas nos dois lados da rua e as pontas eram amarradas, formando assim uma espécie de túnel.
                   O apostolado da oração e as filhas de Maria, usavam folhas de laranjeiras e de outras árvores, junto com pétalas de flores, para fazerem uma espécie de tapete, por onde o reverendo andaria.
                   Os enfeites começavam no pátio da igreja e ia até a entrada da cidade, onde hoje está o posto de combustível.
                   No dia marcado paras a chegada do senhor bispo, lá pelas três horas da tarde, um grande número de pessoas reuniu-se no pátio do Zé Valério, como era conhecida a atual praça São Pedro, mais precisamente em frente ao armazém do Manoel Marques, formando a comissão de frente estavam entre outros o Waldomiro Silva, Antonio Pinto, Zé Valério, Joaquim Brizola, Antonio Bento, Nenê Biglia , Pedro Carlos, Pedro Pinto, Fabrício  Léles, Paulo Coluço, Aparecido Lúcio, Sula, Joaquim Moises, Quim Biglia, Amadeu, Chico Candinho, Chico Belizze, Nelson Barbosa, Processo Martimiano, João Ramos, que juntos com o padre Roberto aguardavam o ilustre visitante.
                   Quando surgiu na curva próximo a casa do Antonio Pinto um automóvel preto, já começou o murmúrio:”É ele, o bispo ta chegando”, e o povo ficou todo alvoroçado, quando o carro passou em frente ao armazém do Alcíbio, subiu o primeiro rojão, e a banda de música toda entusiasmada, tocou um dobrado, e ouviu- se “viva o senhor bispo” e a multidão respondia “Viva Viva” e as palmas faziam coro ao espocar dos rojões.  
                   Quando o carro parou, desceu a figura tão esperada o dom José Carlos Aguirre, com sua batina preta, com um crucifixo ao peito, e acenando à população com o chapéu côco, e tendo a seu lado o abade dom Athanásio Merkle, da abadia de Itaporanga, que o acompanhava em sua visita pastora.
                    As crianças balançavam as inúmeras bandeirinhas feitas com papel vermelho simbolizando no ar, e do Espírito Santo, os rojões espocavam no ar e a banda executava o famoso dobrado “ Capitão Blood”.
                   Após os abraços e apertos de mão, e o discurso de boas vindas, deu-se inicio à caminhada em direção à igreja matriz, a frente do povo em procissão, o senhor bispo ia recebendo os cumprimentos dos moradores, que, em frente as suas casas esperavam sua passagem, para engrossar a procissão e ele respondia a todos abençoando os com o sinal da cruz.
                   Em cada esquina que passavam, subia um rojão soltado pelo João da Laurinda, pelo Adolfo Preto, ou então pelo Eugenio Valério e a multidão ia rezando o terço repartido pelo João Lino e pelo Inácio Pirai, intercalado pelos hinos: Louvando a Maria. O meu coração é de Jesus. Eis me aqui bom Jesus e tantos outros populares na época.
                   Os congregados Marianos, usavam fita azul, com a  medalha de Nossa Senhora, as filhas de Maria além da fita azul e a medalha, usavam um véu branco sobre a cabeça. O apostolado da Oração usavam fita vermelha com a medalha do coração de Jesus e o véu preto sobre a cabeça, e por sua vez, os adolescentes que compunham a Cruzada Eucarística usavam sobre o ombro esquerdo cruzando o peito, uma faixa amarela com uma cruz branca.
                   Entre tantas pessoas que participavam daquela caminhada eu me recordo com saudades de alguns casais já falecidos entre eles; Joaquim Moisés e dona Rita, Chico Moisés e dona Maria, Antonio Bento e Euclidia, Martiminiano e Emilia , Nenê Biglia e Duducha, João Paulino e Camila, Lázaro Rocha e Mariquinha, Quim Biglia e Maria, Waldomiro e Aparecida, Zé Caetano e Paulina, Léles e Chiquinha, Dito Rezende e Júlia, Rezendão e Eudóxia, João de Melo e Isaura, João Alfredo e Angelina, Fabrício e Agailda, Dante e Joana, Gabriel Barra e Sinhana, Chico Guedes e Aurora, Ismênio e Ana e tantos e tantos outros que não lembro, mas tenho certeza que todos estão juntos a Deus pai lá no céu.
                   Ao chegar à igreja e após ajoelhar-se em frente ao Tabernáculo no altar mor, o senhor bispo dirigiu-se ao púlpito e agradeceu a calorosa e festiva recepção, e convidou a a todos para a missa solene amanhã as dez horas e pronunciou, em latim a sua benção apostólica.
         O bispo – Dominus Vobiscum
         O povo –  Et cum Spiritu Tuo
         O bispo _ Benedicamus Dómino
         O povo _  Deo Gratas
         O bispo _ Benedicat Vós Omnipotens Deus Pater Et Fillius Et Spiritus Sanctus
         O povo _ Amém.
                   No domingo foram chegando os fiéis, as mulheres sentavam  nos bancos à direita, e os homens ocupavam os bancos a esquerda.
                   O Coral, formado pelos jovens da época: Cecília, Clari, Teresinha, Mercedes, Alcidina, Maria da Euclidia. Mais tarde Irmã Teresinha, Adail do Antonio Pinto, hoje Irmã Fátima, Cidinha , Leda, Jarbas Ribeiro, Nenê da Auta, Juca de Melo, Bardo, João Bento, Zé Coluço, Nenê Brizola entre outros, regidos pela professora dona Gessi, cantavam os hinos referentes a Santa missa solene.
                   No transcorrer da cerimônia foram crismados os adolecentes, que entraram na igreja entoando o cântico:
                      “Minha fé de Cristão, no batismo
                       Meus padrinhos juraram por mim
                       Hoje venho jurá-la eu mesmo
                       Eia, pois meu Jesus eis me aqui
                       Hoje venho jurá-la eu mesmo
                       Eia pois meu Jesus eis me aqui”.
                   Todos os fiéis presentes cantavam junto, e muitos se emocionavam, chwegando às lágrimas pela beleza da solenidade.
                   O senhor bispo ungia cada crismando, confirmando o propósito de cristandade de cada adolescente.
                   E assim, realizava-se mais uma visita pastoral, feita à nossa paróquia pelo saudoso. Dom José Carlos Aguirre, Bispo de Sorocaba.
                  


  

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